terça-feira, 14 de agosto de 2012

O Que Aprendemos Em Londres?


Passada a euforia das disputas nos Jogos, podemos agora fazer uma avaliação dos eventos ocorridos com a delegação brasileira em Londres, suas causas e consequências para 2016. Este ano tive a oportunidade de assistir os Jogos Olímpicos de uma forma diferente das outras vezes, consultando sistematicamente os comentários e opiniões postados no twitter, facebook e nos mais diversos blogs brasileiros. E pelo que li, permito-me ficar com a impressão de que ganhar uma medalha olímpica é fácil, muito fácil, tamanha foi a quantidade de críticas ao desempenho dos atletas brasileiros nas terras da rainha britânica. Terá sido essa nossa pior participação olímpica? Não, não foi. Tampouco mostramos evolução esportiva esperada em resposta ao investimento feito. Parece que daí é que surgem os grandes desdobramentos que vão alimentar os debates dos próximos quatro anos. Como devemos avaliar criticamente, sem ufanismos nem cornetagens, o desempenho do “Time Brasil” em Londres? Quais os caminhos para nos tornarmos uma potência olímpica? Quais são as barreiras ao desenvolvimento esportivo nacional? Nossos atletas amarelam? Estas perguntas serão debatidas ao longo deste e de outros textos que em breve estarão aqui no blog. Vamos começar...

O lendário lema dos Jogos Olímpicos “O importante não é vencer, mas competir!” parece ter sido interpretado de forma equivocada por tantos anos. O velho Barão de Coubertin certamente não ficaria satisfeito se seus esforços para reeditar o maior evento esportivo do planeta se resolvessem numa pura e simples participação nas provas. Duvido! Competir é disputar, é fazer o possível para conseguir o lugar mais alto do Olimpo. Ganhar ou perder são consequências de um aglomerado de circunstâncias que precisam atuar concomitantemente para que o sucesso seja possível. Por exemplo, o nadador Bruno Fratus saiu das piscinas sem medalha no peito, mas fez o melhor tempo de sua vida nos 50 m livre. No atletismo, a equipe de revezamento 4 x 100 m feminino bateu o recorde sulamericano da prova, mas não foi suficiente para a medalha olímpica. 
O handebol feminino também não passou das quartas de final, mas hoje, embora não esteja no mesmo nível, já pode ser vista com respeito pelas principais potências europeias da modalidade. Devemos considerar estes resultados como sucesso ou fracasso?

E estes outros: Maurren Maggi teve um ciclo olímpico irregular e intermediado por lesões repetidas e uma intervenção cirúrgica. Por essa razão, não se esperava medalha, mas nossa saltadora de ouro em Pequim fez falta na final do salto em distância, no mínimo para botar pressão nas adversárias. Fabiana Mürer era a mais forte candidata à medalha, visto seu retrospecto recente nos campeonatos mundiais do salto com vara. Não ganhou medalha. Não foi à final. Não tentou o último salto. Depois, saiu de lá como se tudo fosse absolutamente normal, como se tivesse desistido de tomar um cafezinho por não ter sua marca de adoçante preferida. E o glorioso futebol, esporte que se identifica com todas as camadas da população? 


O futebol, é bem verdade, merecia um capítulo à parte. Exagera quem diz que o Brasil tinha o seu principal time e os adversários não. Nosso time para 2014 não será aquele de Londres. Vai mudar goleiro, lateral direito, zaga, volantes, meias, e talvez até os atacantes. Ou seja, muita água vai rolar até a Copa. Este time nunca inspirou a plena confiança nem mesmo antes de aportar na Grã-Bretanha. Ainda assim, jogou contra adversários mais fracos e passou por dificuldades várias vezes. E aos olhos do mundo, não ganhou a prata, mas perdeu o ouro. É bem verdade que ninguém imagina que vai começar o jogo com 1 x 0 para o adversário (gol aos 29 segundos de jogo!). 
Mas para um esporte que tem um milionário orçamento anual (o mais alto entre todas as modalidades) e que está para o Brasil assim como o basquetebol está para os EUA, este interminável jejum de ouro olímpico envergonha até o torcedor mais ufanista do país! Só pra se ter uma noção, o basquete norte-americano tem 21 ouros (14 masculinos e 7 femininos), enquanto nosso futebol tem zero! Pra onde vai o planejamento e o investimento de tantos anos?


Em minha opinião, atleta olímpico não tem obrigação de ganhar medalhas, mas deve ter o mais intenso desejo de conquistá-la! E quando você deseja algo de verdade, faz o possível para conquistá-lo. E numa hora como essa me lembro do ensinamento do maior de todos os treinadores de basquetebol da história, John Wooden: “Sucesso é a paz de espírito proveniente da consciência de que você fez todo o esforço possível para se tornar o melhor dentro do seu potencial”.

Por falar nisso, e o basquete? Bom, o masculino disse a que veio. Penso que muitos ainda não dimensionaram o que representou a simples classificação para Londres. Vejam, se a classificação não fosse efetivada, o basquete brasileiro perderia não apenas mais 4 anos, mas sim 8 anos para se reerguer, pois a vaga para Rio 2016 é automática e entraríamos desacreditados, como se tivéssemos penetrado na festa pela entrada dos garçons. Precisávamos ganhar a vaga na quadra, jogando, e não burocraticamente por ser o país sede. Precisávamos merecer nosso lugar no torneio olímpico. E depois de três ciclos olímpicos de fora (não gosto da conta de “16 anos fora” para um evento que só ocorre de 4 em 4 anos!), voltamos.
O grande mestre Prof. Wlamir Marques fez (em minha opinião) o mais lúcido e atento comentário sobre a equipe brasileira nos Jogos ao ressaltar que não fomos a Londres para ganhar medalha, e sim para resgatar a imagem do basquetebol brasileiro no cenário internacional. Visão de quem já ostentou no pescoço duas medalhas olímpicas e dois títulos mundiais! Então, professor, missão cumprida! Poderia ter sido melhor? Claro, sempre pode ser melhor. Entretanto, a base do trabalho para a próxima vez está consolidada e creio que os frutos devem ser colhidos ao longo dos próximos dois ciclos olímpicos. Por outro lado, o feminino saiu daqui desacreditado, chegou lá desmembrado, e voltou pra casa derrotado. Temos um problema que parece de difícil solução em curto prazo: não temos adversários na América do Sul! Isso mascara sobremaneira as limitações de nossos times. Precisamos de uma Liga Sulamericana de clubes forte, precisamos de intercâmbio com países europeus. E precisamos que a Liga de Basquete Feminino decole! E isso é só ponta do iceberg.

O que está abaixo da linha d’água, a parte submersa do iceberg, é o maior de todos os problemas. Mas ao mesmo tempo, penso que não seja. Vou dar o exemplo de duas modalidades cujas Confederações parecem ter encontrado soluções para enfrentar os desafios do desenvolvimento esportivo. O judô levou 14 atletas a Londres, colocou 11 deles entre os oito melhores do mundo e ainda se fez presente em quatro pódios. O vôlei (quadra + praia) disputava seis medalhas, ganhou quatro, e mais, continua a manter-se entre os seis primeiros do mundo desde de 1980 no masculino e de 1988 no feminino. Foram 11 medalhas somente nas últimas três edições de Jogos Olímpicos, sendo quatro ouros. Para agravar a situação, o vôlei de quadra é a única modalidade coletiva brasileira a ouvir o hino nacional nos Jogos Olímpicos! Foram quatro títulos de campeão olímpico desde 1992 em Barcelona. E até agora, ninguém mais repetiu o feito. Na praia, que é olímpica desde 1996, o Brasil nunca deixou de marcar presença nas cerimônias de premiação. O que me deixa incomodado é que o vôlei em tese tem as mesmas dificuldades e limitações operacionais que o basquete (inclusive a disputa de público com o futebol). Mas como o vôlei conseguiu atingir e permanecer na elite mundial do esporte e o basquete não?

Já comentei outras vezes aqui no É Cesta! que a formação dos dirigentes esportivos é um fator fundamental para o crescimento esportivo do país no longo prazo. O vôlei e o judô entenderam isso faz muito tempo, mas parece que as demais modalidades ficaram vendo o bonde passar e não aproveitaram as mesmas oportunidades. A Confederação Brasileira de Voleibol tem um centro de treinamento especializado e bem estruturado, cursos de capacitação de professores e treinadores em todo o país, planejamento comercial (marketing) eficiente, e de forma mais ousada, a recém-criada Universidade Corporativa do Voleibol, que pretende formar profissionais para as mais variadas funções associadas à excelência da performance da modalidade no país.

O que aprendemos em Londres é que o caminho para o desenvolvimento do basquetebol e do esporte brasileiro em geral estava logo aqui ao lado e o tempo todo, mas ninguém se tocou! 

O pior cego é aquele que não quer ver...

Um comentário:

  1. Fabiana Murer foi o grande fiasco, por mim não merece mais nenhuma " plata"do federal gov. Ainda vai pleitear a bolsa medalha, nova criação do goverrno. No
    mais assino embaixo amigo Kiko!
    ABRS, Erick

    ResponderExcluir