Esta semana no
programa “Bem, Amigos” do canal Sportv, houve um debate bastante interessante
acerca da administração do esporte no Brasil, com as presenças dos técnicos de
futebol Levir Culpi e Dorival Jr, além das presenças do staff da casa, Junior,
Alberto Helena Jr, Caio Ribeiro, Bob Faria, Arnaldo Cesar Coelho e Luiz
Roberto. As opiniões apresentadas foram coerentes e possivelmente expressaram
os pensamentos de muitos esportistas entre nós, independentemente de modalidade
esportiva.
De cara, o que
mais me assusta é a irresponsabilidade de vários dos dirigentes, cujas atitudes
mostram uma preocupação mais voltada para si próprio do que para o bem do
clube. Dívidas ignoradas (falta pouco para alguns dos grandes clubes
brasileiros atingirem a marca de meio bilhão de reais de dívida), controle de
gastos ausente, contratações sem sentido (a não ser atender a empresários),
entre outras coisas. O basquete nacional não se encontra no mesmo patamar de
investimentos e visibilidade do futebol, por isso esse tipo de situação não é
tão comum na mídia. Mas, até quando estaremos de fora deste tipo de noticiário?
O esporte de
alto rendimento precisa ser gerido empresarialmente. Por isso não há mais lugar
para dirigentes sem algum tipo de formação básica. Contar apenas com a boa
vontade dos abnegados não pode ser a saída para o desenvolvimento esportivo no
país. A falta de conhecimento acerca de planejamento estratégico é uma barreira
ao crescimento da modalidade. Precisamos de dirigentes que sejam ousados e
criativos, porém responsáveis e responsabilizados por seus atos.
Além disso,
deve haver algum grau de conhecimento ou assessoria específica sobre como
funciona um programa de treinamento a longo prazo. Caso contrário, erros graves
serão (e são) cometidos. Tempos atrás, quando eu era técnico da categoria
sub-12 (pré-mirim) no Rio de Janeiro, por exemplo, estive numa reunião na
Federação de lá para tratar de como seria o primeiro torneio da faixa etária
naquele ano. Era março ou abril, e o diretor da federação queria iniciar a
disputa já naquele mês. Antes da reunião, os técnicos presentes conversavam
sobre suas equipes, e com exceção de duas, todas as demais (umas cinco ou seis)
não estavam preparadas para jogar. Como essa era a categoria mais jovem entre
todas, vários atletas haviam ingressado pouco tempo antes na escolinha do clube
para aprender os mais básicos fundamentos do jogo.
Quando começou
a reunião, pedi a palavra e sugeri que o torneio fosse adiado para o 2º
semestre, dando tempo para que aqueles neoatletas pudessem aprender o
suficiente para disputar uma partida oficial. Aqueles times que se julgassem
prontos marcariam amistosos como jogo preliminar do campeonato adulto. Todos os
treinadores concordaram. Mas o diretor da entidade disse: “É, só que agora
ficou muito em cima. Vamos fazer esse torneio agora e depois a gente pensa
nisso.”
Sejamos
francos, quem gosta de competição, gosta de ganhar. Assim, todas as equipes
queimaram etapas na formação dos atletas em busca da possibilidade de vitórias.
Alguns times eram ainda muito iniciantes, e suas derrotas chegaram a ultrapassar
os 100 pontos de diferença no placar. A maioria dos jovens atletas derrotados perversa
e continuamente abandonaram o esporte ao final daquele torneio. Os próprios
clubes limitaram seus investimentos, visto que apenas as vitórias e os títulos
interessavam.
Não é proibido
ser campeão, mas o verdadeiro papel do treinador da base é participar e dar
continuidade ao processo de formação de atletas no longo prazo. Observe que não
mencionei que o papel é formar atletas e sim dar continuidade ao processo, de
modo a evitar a falsa impressão de que já aos 13 anos de idade o atleta precisa
saber de tudo da modalidade, todas as regras, todos os sistemas de jogo, todas
as plataformas de defesa, todos os fundamentos, enfim, todas as situações de
jogo. Precisa haver um planejamento no qual seja estabelecido o que cada faixa
etária deve aprender ao longo do ano, tornando o aprendizado gradativo e
cumulativo.
Se o dirigente não entender isso e se o treinador da base achar que seu emprego depende de troféus e medalhas, o país nunca será um eficiente formador de atletas, e ficaremos a mercê da natural evolução dos nossos talentos, ou ainda da importação de estrangeiros para compor nossa seleção nacional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário