sexta-feira, 24 de maio de 2013

Maturidade Esportiva


Muito se falou sobre a confusão gerada ao final da partida entre São José e Flamengo, válida pela fase semifinal do NBB 2012/13, ocorrida nesta quinta-feira. Por outro lado, pouco se falou sobre o jogo em si, visto que a briga protagonizada por atletas e membros de ambas as comissões técnicas obteve um impacto muito mais elevado nos noticiários e nas opiniões dos diversos amantes do esporte nas redes sociais. Com frequência os termos “barbárie”, “bagunça”, “lastimável”, “vergonha”, “confusão”, “papelão”, “ridículo”, entre vários outros podem ser lidos nos comentários e postagens on line.

O basquetebol brasileiro tem dado mostras de ganho de qualidade tanto do ponto de vista técnico-tático, como nos aspectos extraquadra. A organização da principal competição do país tem sido bem recebida e com boa dose de credibilidade. Há muito a se melhorar, mas penso que focar demasiadamente naquilo que falta, significa desconsiderar aquilo que já foi (ou está sendo) feito. O episódio em destaque no momento é uma prova disso. O jogo (que não pude assistir, mas li as matérias e os comentários) parece ter sido um clássico jogo de playoff de alto nível: do começo ao fim acirrado, intenso, ou como se diz na gíria esportiva, “pegado”. Eduardo Agra, ex-jogador e ex-técnico, e hoje comentarista da TV Espn, rotineiramente agrega um adjetivo às faltas mais duras que ocorrem nesta fase eliminatória do campeonato da NBA: “Esta foi uma típica falta de playoff!”.  Pois é. Espera-se um jogo mais físico e mentalmente mais desafiador para quem chega até lá. E o desafio mental parece ser justamente o ponto nevrálgico do atleta brasileiro, infelizmente uma característica não exclusiva dos “basquetebolistas”.

Nos espelhamos na NBA para termos uma fórmula de disputa similar; uniformes com modelos (cortes e designs) parecidos; premiações e jogos festivos no melhor american style possível; mascotes que agitam as torcidas e alegram a garotada; intercâmbio com atletas e treinadores estrangeiros; mas ainda nos falta aprender a superar o “mental challenge”. O basquete americano é famoso por seu hábito de fazer o chamado “trash talking”, ou seja, as provocações verbais quem nem sempre são flagradas pela captação de áudio das incontáveis câmeras de TV. 

Kevin Garnett e Kobe Bryant, típicos "trash talkers"
Atleta brasileiro tem muita dificuldade de lidar com este tipo de situação. Lá na América de cima, as provocações resultam em intimidação emocional do adversário, que se vê subjugado, ou no sentido oposto, servem de combustível emocional para fazer saltar o “olho de tigre”, expressão popularizada nos primeiros filmes de Rocky Balboa.

Recentemente, o New York Nicks vencia a série do playoff contra o Boston Celtics por 3 a 1. O quinto jogo era em Nova Iorque, e tudo indicava que a classificação seria consolidada no Madison Square Garden frente à sua fanática torcida. Para apimentar a disputa, dois jogadores dos Nicks sugeriram que o time todo deveria ir para o ginásio vestindo agasalhos pretos, como se estivessem lá para “celebrar” o funeral do Celtics. Os companheiros de equipe curtiram a ideia, e assim foram vestidos. 
Jogadores do NY Nicks vestidos para o "funeral do Celtics"


Houve provocação? Sim, sem dúvida. De mau gosto até, visto que poucas semanas antes a cidade de Boston ganhava as manchete nos noticiários internacionais por conta as explosões de duas bombas durante a tradicional Maratona de Boston (OK, fiquem à vontade para desconsiderar esta minha enviesada opinião de torcedor dos Celtics...). Mas, enfim, qual foi o efeito disso sobre os jogadores? Uma devastadora atuação que levou à vitória dos Celtics, e que prorrogou a série em mais uma partida.

E na América de cá, o que houve? Provocações provavelmente muito mais simples conduziram a uma absurda briga no NBB. Não vou falar dos personagens envolvidos na confusão, porque sinceramente acho que não merecem nem mesmo ser citados. Experiência e serenidade não andam juntas no esporte brasileiro. Não dá pra provocar sem esperar resposta. Mas os limites devem ser respeitados. “Se não sabe brincar, não desce pro playground!”.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

O Fim de uma Era?


Semana passada (pra minha tristeza) o time do Boston Celtics foi eliminado da atual temporada da NBA após perder para o time do New York Nicks, mesmo diante de sua aficionada torcida. A eliminação ocorreu numa partida absolutamente improvável de se repetir. Não vi o jogo, mas cheguei em casa e comecei a correr as postagens no twitter. Os comentários não eram nada agradáveis. Os Celtics iniciaram o último quarto do jogo perdendo por uma longínqua diferença de 26 pontos. Eduardo Agra, comentarista da ESPN chegou a postar “Boston is done”. Contudo, algumas postagens mais a frente mostravam a reação do time dirigido por Doc Rivers. E então, cerca de 5 min depois, os times estavam separados por apenas seis pontos (chegou a cair para quatro pontos, faltando apenas 3 min e 50 s). Bom, infelizmente essa fantástica reação não foi suficiente para evitar a derrota e o fim da história. E é aí que temos uma situação em aberto. Dois dos principais jogadores da equipe nos últimos anos completam este em 2013, 36 anos (Paul Pierce) e 37 anos (Kevin Garnett). Ambos estavam bastante emocionados ao final do jogo.

Kevin Garnett fazendo flexões de braço no jogo contra Miami Heat (2011-12)

Muitos comentários sobre o time apontam para o fim de uma era em Boston. Garnett, ao final da temporada anterior dava clara intenção de continuar mais um ano na equipe. Seu contrato, inclusive, possui uma cláusula que o impede de ser negociado para outro time. Mas, segundo o técnico Doc Rivers, este ano parece diferente. Ao que tudo indica, as chances de vê-lo fazendo flexões de braço no meio da quadra são bem menores agora.

Paul Pierce foi cogitado para uma troca durante a janela de transferências da Liga. Mas ficou em Boston. Aliás, nunca saiu de lá. São 14 anos como atleta profissional, todos dedicados à franquia de Massachusetts. Como a NBA exerce controle sobre os investimentos máximos das equipes (uma inteligente estratégia para manter a possibilidade de equilíbrio), a saída de Paul “The Truth” Pierce pode abrir espaço para a contratação de outros jogadores. Mas, trocar de time ou parar de vez?


Paul "The Truth" Pierce

Acho Paul Pierce um jogador espetacular, muito acima da média. De Kevin Garnett sou fã mesmo! E por conta disso, apesar de gostar de vê-los em quadra, torço para que saibam parar no auge da carreira, mesmo com aquela certeza de poder jogar mais uma temporada ainda. E espero poder assistir um jogo do Celtics em pleno TD Garden e ver os números #5 e #34 pendurados nas flâmulas no alto do ginásio. Números aposentados são uma das maiores honrarias que um jogador pode receber. Ao menos no esporte jogado na América de cima. 






Flâmulas com números aposentados do Boston Celtics
Será que um dia, aqui na América de baixo, teremos camisas penduradas no ginásio com os números que outrora foram usados por nossos ídolos de todos os tempos? Tá na hora de prestar homenagens àqueles que fizeram (e ainda fazem) o basquetebol tão cheio de surpresas e encanto em nossas quadras. Não podemos permitir que estas eras se acabem sem deixar vestígios!



quinta-feira, 14 de março de 2013

Técnicos vs Entrenadores


Há poucas semanas atrás, li alguns comentários em blogs e redes sociais, criticando a contratação de técnicos estrangeiros para dirigir clubes brasileiros, e declarando que torceria contra estes times. A justificativa é a aparente desvalorização dos treinadores brasileiros em relação aos de outros países. Precisamos buscar um meio termo entre os sentimentos de xenofobia e colonização. É chato saber que um conhecido perdeu o emprego para um estrangeiro. Mas será que ficaríamos aliviados se ele tivesse perdido o cargo para outro brasileiro? Qual o mal que nos faz ter treinadores estrangeiros em nossos clubes? Será que não há nada a aprender com estes profissionais?

O basquetebol brasileiro passou três ciclos olímpicos (2000, 2004 e 2008) assistindo os Jogos pela TV. E quando voltamos em 2012, foi sob o comando de um argentino (Rubén Magnano), que por sinal, substituiu um espanhol (Moncho Monsalve). Ao longo dos anos recentes, diversos atletas de clubes brasileiros se acostumaram a ouvir instruções em outra língua que não a portuguesa. Atualmente duas equipes do NBB possuem técnicos espanhóis. E já tivemos argentinos, uruguaios e porto-riquenhos na função. Nos faltam cursos de formação ou de aprimoramento para técnicos no Brasil. A Escola Nacional de Treinadores de Basquetebol foi um bom projeto, mas parece ter sido esquecido e perdido seu rumo. Clínicas e oficinas ministradas por treinadores brasileiros em geral são direcionadas à iniciação esportiva (mesmo quando quem as ministra não trabalha na iniciação, e sim no alto nível). Nossos treinadores não têm o hábito (infelizmente) de escrever livros. Ou seja, de que maneira será viável o aprendizado e a formação de novos treinadores, e a atualização daqueles que já estão plenamente engajados no ofício?

Alguns de nossos profissionais buscam uma formação continuada no além-mar, visitando centros de treinamento e fazendo cursos de técnico na Europa e EUA. Não seria mais barato e acessível aproveitar a longa estadia de um treinador estrangeiro para observar atentamente sua maneira de trabalhar? Penso que esta é uma oportunidade interessante para nossos treinadores (iniciantes ou experientes). A direção da equipe não se limita a definir o time titular, os tipos de defesa e as jogadas ensaiadas. Há muito mais por trás disso. Estilo de liderança, opções estratégicas, determinação de posturas, atitudes e normas de deslocamentos tanto na defesa como no ataque, são informações vitais para compor um sistema tático. Quem os acompanhar mais de perto, poderá aprender outros exercícios e métodos de treinamento.

Será que em nosso almoxarifado de informações não há espaço para novidades? Será que estas nem mesmo existem?  Temos treinadores de alto gabarito, vários deles eventualmente fora das vitrines. Por isso, não acho que devemos substituir todos. Mas também não vejo com maus olhos que de tempos em tempos se quebre a homeostase e se veja as coisas com outros olhos, sotaques e línguas.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O Legado dos Treinadores Brasileiros


Mais uma vez o tema “legado” volta às nossas discussões. Tenho tido uma imensa preocupação com o “day after” das nossas megaventuras esportivas internacionais dos próximos três anos. Desta vez, o foco é sobre os treinadores esportivos brasileiros. O que nos deixam de legado? Em anos recentes tivemos a (ingrata) oportunidade de ler e ouvir críticas sobre estes profissionais, que eles não estudam, que eles não se atualizam, etc, etc. Isso não é verdade! Não sei quanto às outras modalidades, e até tendo a desconfiar que isso seja um fato no futebol, por exemplo, mas no basquetebol brasileiro posso afirmar sem medo de errar que nossos treinadores estudam e se atualizam. Cada um a sua maneira, a maior parte sempre busca informações para aprimorar seu conhecimento e melhorar a performance de seus atletas e equipes.

As formas de atualização contemplam desde a maciça participação em cursos, clínicas e estágios não só no Brasil como também no exterior, até a aquisição de livros, acesso a sites e participação em grupos de discussão de técnicos via e-mails ou redes sociais. Vários treinadores detém a arte de perceber as mudanças surgidas no estilo de jogo de equipes diferentes ao assistir os campeonatos internacionais pela televisão ou in loco. Estes profissionais não são torcedores que vão aos ginásios para admirar jogadas espetaculares, mas sim profundos observadores da tática, da estratégia, do uso dos fundamentos e do comportamento de técnicos, atletas e árbitros, elementos que visam à melhora do seu rendimento profissional.

Por tudo isso acima, não concordo com a crítica de que nossos treinadores não estudam. Nossos treinadores leem bastante. Só não escrevem. Essa, para mim, é a principal falha. É onde permitimos escapar gradativamente a oportunidade deixar um legado esportivo para as gerações atuais e futuras do esporte brasileiro. Temos treinadores de alto nível nas mais variadas modalidades esportivas, mas com raríssimas exceções, nenhum publica seus conhecimentos. Certa vez, conversei com um treinador de basquetebol sobre a possibilidade de ele escrever um livro sobre seu aprofundado conhecimento do esporte e ele se sentiu quase ofendido, chegando a perguntar se eu era maluco! A razão apresentada por ele para a recusa era que ele não queria “entregar o ouro para o bandido”. Pois é...será que esse é mesmo o espírito? Será que essa é a razão para não “mostrarmos o que fazemos de verdade na quadra”?

Penso que isso tenha um fundo cultural. Nos EUA, por exemplo, é praticamente uma questão de honra e prestígio no meio profissional mostrar o que se sabe e o que se faz. É mais do que comum os treinadores publicarem artigos e livros, alimentarem sites e grupos de discussão, e até possuírem canais de vídeo no Youtube, dando dicas de ensino de fundamentos, de táticas defensivas e ofensivas, e tudo mais. Mostrar o que sabem nunca foi considerado por lá “entregar o ouro ao bandido”! No de 1994, o então técnico do Chicago Bulls, Phil Jackson, esteve no Rio de Janeiro para participar de um evento e ministrou uma aula teórica e outra prática demonstrando com detalhes o sistema de jogo ofensivo que ele adotava em sua equipe (triangle offense). Não foi algo superficial para tapear os espectadores e fingir que os ensinava. Foi legitimamente o ataque do Chicago Bulls. Quem assistiu às aulas e costumava ver o time jogar, sabe que não faltou nada sobre o assunto.

Digite qualquer elemento do jogo de basquete no Google ou no Youtube e você descobrirá uma infinidade de sites, livros, artigos e videoaulas bem explicadas e detalhadas sobre seu assunto. No Brasil, com exceção do livro “Basquetebol: sistemas de ataque e defesa” do Prof.º Walter Carvalho e do livreto (sem editora ou ISBN) “Os dez mandamentos do basquetebol moderno” do Prof.º Waldir Boccardo, todos os demais treinadores que publicaram livros por aqui se dedicaram à iniciação esportiva, mesmo aqueles que só trabalham com o alto rendimento.

O Brasil, como uma pretensa potência olímpica em desenvolvimento, precisa aprender a passar a informação que adquiriu ao longo dos anos pelos mais variados meios para multiplicar e perpetuar o conhecimento.


Livros citados: 

CARVALHO, W. Basquetebol: sistemas de ataque e defesa. Rio de Janeiro: Sprint, 2001.

BOCCARDO, W. Os dez mandamentos do basquetebol moderno. (encomenda via www.bolar.com.br)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Brasília e o Jogo dos 1000 Erros


Esta semana houve a promoção de uma grande festa do basquetebol brasileiro. O NBB (Novo Basquete Brasil), competição organizada pela Liga Nacional de Basquete e que substituiu os campeonatos brasileiros de clubes outrora a cargo da Confederação Brasileira de Basketball, chegou à marca de 1000 jogos. A promoção foi bacana, com direito a vídeos em canais de mídia em locais públicos, como o metrô de São Paulo, por exemplo. O jogo não poderia ser outro se não aquele que colocava frente a frente os dois únicos campeões do certame em seus quatro anos de existência. Os times de Flamengo e Brasília com seus elencos repletos de estrelas dos basquetebol nacional foram contemplados com placas comemorativas antes da bola subir para o início da peleja. Muito bacanas e justas homenagens. Mas...

Durante o jogo a arbitragem foi confusa, o cronômetro de 24 segundos estava com defeito, o placar apagou durante e teve que ser reiniciado, as luzes do ginásio se desligaram parcialmente (fazendo um clima de “treino de segunda-feira a noite”, como disse Byra Bello durante a transmissão) e houve uma farta distribuição de faltas técnicas e desqualificantes (só no último quarto de jogo foram cobrados 39 lances livres!).

Esta equipe de arbitragem já teve dias melhores, é verdade. Houve atitudes provocadoras e certo exagero na intolerância às reclamações dos atletas. Ao que tudo indica, os árbitros foram instruídos a coibir qualquer reclamação acintosa. Concordo que o atleta brasileiro exagera nessas atitudes e que vive simulando faltas e “jurando por Deus que não encostou no adversário”, mas será que essa recomendação para a arbitragem chegou ao conhecimento das equipes? Em caso negativo, a arbitragem será meramente punitiva e levará mais tempo para modificar os hábitos dos jogadores. Mas...

Também não dá pra achar que somente os árbitros foram responsáveis pela confusão no jogo. Sei que muitos não vão concordar comigo, mas pelo que vejo, acho que o time de Brasília está “saturado de jogar junto”. O sempre eficiente trio Nezinho, Alex Garcia e Guilherme Giovannoni mostra sinais de cansaço emocional após cerca de uma década. As reclamações têm se tornado uma constante contra toda e qualquer arbitragem. Seus movimentos sempre buscam supervalorizar o contato dos adversários sugerindo marcação de falta a seu favor. E quando o árbitro considera o lance como normal, expressões verbais e corporais dramáticas são imediatamente executadas como forma de demonstrar seu descontentamento. Uma pena, pois o time é muito bom! Tão bom que é merecida e indiscutivelmente o tricampeão do NBB. Mas esse atual estilo de jogo tem tornado os jogos do Brasília chatos de se ver. E com isso se desconcentram do jogo e perdem o foco. Por duas vezes o Flamengo abriu 20 pontos de vantagem e o time candango fez a diferença baixar para 10. Nas duas vezes, suas reclamações (mesmo quando fundamentadas) deram ao rival a chance de cobrar sequências de lances livres que distanciaram as equipes no placar. Na primeira vez, inclusive, o time tinha acabado de sofrer uma falta antidesportiva, a 5ª do armador flamenguista Vitor Benite. Brasília teria dois lances livres com Arthur (o melhor em quadra) e mais a posse de bola, o que poderia deixar um saldo negativo de apenas seis pontos, reequilibrando o jogo. Mas...

Eu não entendi como ou por que (a TV não mostrou), mas o técnico do Brasília recebeu uma falta técnica e depois uma desqualificante. Ou seja, a falta antidesportiva do flamengo e a falta técnica do Brasília se anularam (em termos de penalidade), sobrando no fim das contas, dois lances livres e posse de bola para o Flamengo. Bem mais tarde, e novamente 10 pontos atrás, um ato impensado do armador Nezinho, gerou novas faltas técnicas e desqualificantes. E o Flamengo teve direito uma sequência de seis lances livres e posse de bola. Detalhe: foram tantas infrações sucessivas que a arbitragem ainda se confundiu nas contas e esqueceu de conceder outros dois arremessos ao time carioca (foram marcadas um falta pessoal, duas técnicas e uma desqualificante, total de oito lances). Some-se tudo isso às ausências dos pivôs Marcio Cipriano (lesionado) e Lucas Tischer (dispensado aparentemente por razões técnicas), que limitaram as opções táticas do treinador José Carlos Vidal.

O basquete brasiliense se tornou uma marca forte no esporte nacional e precisa continuar. Mas talvez seja interessante reformular o elenco para as próximas temporadas e evitar que alguns dos maiores atletas do basquetebol nacional tenham suas carreiras marcadas na reta final mais por reclamações do que cestas. Até por que, já vimos isso acontecer antes...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A Cesta de 15 Pontos


Na terça-feira, dia 04 de dezembro de 2012, houve um jogo fantástico válido pelo quadrangular final da Liga Sulamericana de Basquetebol. Em quadra estiveram Flamengo e Peñarol (da Argentina). O time brasileiro não fez um bom primeiro tempo e chegou ficar quase 6 minutos sem pontuar no segundo quarto. O estrago daquela primeira metade de jogo foi tão grande que durante 11 min e 38 s, o placar foi 31 a 5 para os argentinos (vejam a evolução do placar ao longo da partida na figura abaixo). Com uma diferença de 26 pontos dá pra se considerar a fatura liquidada. E o Flamengo foi para o vestiário 20 pontos atrás do adversário. E aí...bom, pra encurtar a estória, o Flamengo ganhou o jogo de 79 a 78. Mas como foi isso?


Já vimos viradas espetaculares acontecerem ao redor do mundo, inclusive com a Seleção Brasileira. Já mencionamos anteriormente a final dos Jogos Panamericanos de Indianápolis (1987), em que time brasileiro foi para o intervalo de jogo também com 20 pontos atrás, e virou a partida com base nos arremessos de 3 pontos. A conquista do Pan-1987 talvez tenha gerado a característica mais marcante do estilo de jogo brasileiro, o que muitos apelidaram de “chutebol”.

No entanto, diferentemente do que o basquetebol brasileiro está acostumado, desta vez não foram as milagrosas bolas de 3 pontos que salvaram o time. Pelo contrário, o aproveitamento do time nunca foi tão inexpressivo neste sentido: nenhum acerto em 15 tentativas! Cabe comentar que o Peñarol acertou 9 de 22 tentativas, equivalendo a bons 41% de aproveitamento nos arremessos de longa distância. O que fez o time carioca vencer, então?

Penso que três fatores contribuíram para a vitória. O primeiro foi o bom controle emocional da equipe (apesar de uma ou outra falta técnica!), a começar pelo estilo de liderança do técnico José Neto, que a todo tempo dizia para que seus atletas ignorassem os erros de arbitragem e se concentrassem no jogo. O segundo aspecto foi a atitude defensiva do time que passou a atrapalhar mais os arremessos argentinos e brigar de forma mais aguerrida nos rebotes (Olivinha e Shilton juntos pegaram 10 rebotes ofensivos!). Um rebote ofensivo dá à equipe atacante uma nova oportunidade de encestar sem que a posse de bola troque de mãos. Por fim, as inteligentes opções táticas do ataque, que tiraram o peso dos chutes de 3 pontos para se concentrar num jogo mais próximo à cesta. A figura abaixo mostra os arremessos do Flamengo no 4º quarto de partida. Observem que, ao invés de buscar a famosa "cesta de 15 pontos" para diminuir a diferença rapidamente, a maioria das finalizações ocorreu em até 1,5 m de distância da cesta, enquanto apenas 3 tentativas de longa distância foram efetuadas.


Será este o novo estilo do basquetebol brasileiro?
E você, acha que vale a pena tentar jogar mais perto da cesta e arremessar menos bolas de 3 pontos?




quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A Polêmica das Bolas


Há poucas semanas li no twitter um comentário de um dirigente do E.C. Pinheiros acerca da preocupação por estar disputando três competições simultaneamente e que adotam diferentes marcas de bolas. Qual o problema disso? Na verdade, muitos! As três competições são o Campeonato Estadual Paulista (finais), Liga Sulamericana (fase semifinal) e o Novo Basquete Brasil (início da fase regular). As bolas são Pênalty (Campeonato Paulista), Molten (Liga Sulamericana) e Spalding (NBB). Pode parecer besteira, mas na verdade não é. A regra da FIBA não determina um único tamanho e peso da bola para a categoria adulto, por isso são permitidas variações de peso entre 567 g e 650 g, e circunferência entre 749 mm e 780 mm.

Estas diferenças parecem ser pequenas, mas de fato trazem modificações importantes na forma de segurar a bola e também na força aplicada para driblar (controlar), passar e principalmente arremessar a bola à cesta. Desconsiderar estas características é um equivoco que precisa ser evitado. Outra questão interessante é relativa ao material de confecção da bola. A textura do tecido que reveste a bola pode aumentar ou não o chamado grip, ou seja, a aderência da mão à bola. Temos um melhor controle com uma bola com menor circunferência e melhor grip, o que favorece os dribles e fintas, e os rebotes, por exemplo. Por outro lado, apesar dos arremessos de longa distância ficarem mais fáceis, o ajuste neuromuscular que deve ser feito pode comprometer a precisão. Vamos entender que quando treinamos de forma repetitiva um mesmo gesto motor, a tendência é que acabemos por determinar uma espécie de “memória motora inconsciente” (conhecido como engrama motor). Essa memória motora permite que façamos um movimento sem pensar, de forma automática.

Por exemplo, nos Jogos Panamericanos de Indianápolis em 1987, o treinador do time brasileiro, Prof. Ari Vidal, exigia que seus jogadores executassem após cada sessão de treino, 500 arremessos convertidos das suas posições convencionais de arremesso em quadra, em situação de jogo, inclusive marcado e em aro menor. Na final contra os EUA, os arremessos certeiros de Marcel de Souza e Oscar Schmidt foram o ponto de equilíbrio da equipe brasileira. O engrama motor estava tão bem estabelecido que as várias situações que surgiram ao longo da partida não ofereciam surpresas para os atletas. Contudo, este registro neuromotor pode ficar abalado se a cada vez que se treinar ou jogar for utilizada uma bola com dimensão e peso variados. Assim, é possível que o arremessador aplique força demais quando tentar um arremesso e a bola acerte sempre o fundo do aro, mas não a cesta perfeita, ou aplique força de menos e a bola nem alcance o aro.

Por fim, o material de confecção da bola pode apresentar variações no coeficiente de restituição, o que diretamente altera o controle da bola durante o drible e as fintas. Sucintamente, este coeficiente representa a modulação da velocidade do objeto (no caso, a bola) antes e depois de uma colisão com outro objeto (piso, por exemplo). Isso, claro, sem levar em consideração a calibragem da bola, mas que nada tem a ver com o fabricante.

Deste modo, penso que a preocupação do diretor do E.C. Pinheiros é pertinente. E merece atenção das autoridades ligadas ao comando administrativo do basquetebol.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

E Quando a Estrela Não Brilha?


Talvez com uma ou outra exceção, todas as equipes têm em seus elencos um ou dois jogadores considerados como as “estrelas” do time. São jogadores em quem o restante do time possui uma confiança tão grande que naqueles momentos de baixo desempenho geral e perda de controle emocional na partida a melhor opção é sempre passar a bola para eles. As chamadas estrelas agem como o porto seguro da equipe dentro da quadra. Apesar disso, sua principal característica não é necessariamente a liderança, mas sim a sua autoconfiança. São os jogadores cuja probabilidade de erro nos momentos decisivos é menor do que quando se compara com os demais companheiros de time. E tudo isso ocorre independentemente de faixa etária, gênero, e nível técnico das equipes. Sempre alguém joga melhor ou tem mais autoconfiança do que os outros dentro de uma equipe esportiva. O problema é “quando a estrela não brilha”, o que fazer?

Essa talvez seja uma das mais difíceis tomadas de decisão do técnico. Seu principal jogador não se encontra em um dia favorável, mas ao mesmo tempo, é o cara em quem todos confiam. Será que nestas condições é ele quem deve tentar a última cesta? E este arremesso final pode ser feito de qualquer maneira, mesmo desequilibrado, como se ele obtivesse uma espécie de “licença poética” para tentar o que quiser na quadra? Não existe uma ciência exata para se determinar o que fazer. Seja qual for a decisão do técnico, provavelmente ele será criticado se perder o jogo, e elogiado se vencer. É como dizem: “prognósticos, só no fim do jogo!”.

Essa situação surgiu ontem no jogo da NBA entre Oklahoma City Thunder e Los Angeles Clippers. O armador dos Clippers e seu principal jogador e líder, Chris Paul, fez possivelmente uma de suas piores apresentações em quadra na carreira. Seu aproveitamento nos arremessos de quadra não atingiu nem os 15% (2 acertos em 14 tentativas), além de 4 perdas de bola. Ainda assim, nos momentos finais da partida, foi dele a responsabilidade de buscar a vitória. Observem no vídeo abaixo que havia uma opção viável de passe (Matt Barnes na diagonal direita), mas Chris Paul optou pela jogada individual e fez o arremesso em total desequilíbrio corporal (giro e fade away) e desperdiçou a chance de vitória na casa do adversário. É bom ressaltar que qualquer cesta (de um, dois ou três pontos) definiria a partida em favor dos Clippers.







Um jogador amadurecido deve ter discernimento e sensibilidade suficientes para perceber qual é de fato a melhor opção tática a ser executada. Há uma linha tênue que separa os heróis dos vilões. Ao técnico, cabe da mesma forma decidir e orientar o plano de jogo que conduza a equipe ao êxito, sem transferir a responsabilidade a terceiros.

E se você fosse o técnico, o que faria?

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Os Times que Mudaram o Jogo


Acabei de ler o livro “Dream Team” do jornalista americano Jack McCallum. O livro apresenta como subtítulo “O time que mudou o jogo”. Obviamente, o livro versa sobre a seleção americana de basquetebol dos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992. A cada capítulo, um universo bastante diferente de informações é destacado, e em função disso, cabe perguntar: eram eles atletas ou artistas? O que faziam exatamente nos Jogos Olímpicos? Declarações da época indicavam que o torneio de verão seria tratado como férias olímpicas. E pelo visto, foi isso mesmo. Não havia preocupação com jogos ou adversários (exceto a Lituânia), nada de horários rígidos para dormir ou se levantar, nada de fiscalização sobre as atividades noturnas, sociais e etílicas do grupo. Os chamados “dreamers” jogaram muito mais pôquer e golfe do que basquetebol na Espanha. Ainda assim, os adversários não fizeram nem sombra, sendo invariavelmente derrotados por uma média superior aos 40 pontos de diferença, o que denota o imenso distanciamento do esporte profissional americano do resto do mundo à época.

A concepção de time dos sonhos pode ser interpretada de várias maneiras. Penso que a participação de alguns jogadores como Larry Bird, por exemplo, deveu-se mais ao conceito de time dos sonhos do que o mérito da época. Pra se ter uma ideia, ao ser perguntado sobre a possível aposentadoria após os Jogos, Bird respondeu “Já estou aposentado faz tempo; vocês é que ainda não perceberam!”. Ele não tinha condições físicas de jogar devido a uma lesão lombar crônica. Mas isso não importava. Não haveria um time dos sonhos sem Larry Bird no elenco. Na verdade, este time mais parecia a reunião dos Três Mosqueteiros (Magic Johnson, Larry Bird e Michael Jordan) e D’Artagnan (Charles Barkley). Pelo menos, assim eles se manifestavam.

A entrada dos profissionais da NBA mudou um tanto quanto a ótica (hipócrita) do Comitê Olímpico Internacional acerca do impedimento da participação de atletas profissionais. Vários atletas de diferentes modalidades já eram profissionais do esporte há tempos, mas não recebiam esta alcunha. A partir disso, muita coisa mudou no cenário esportivo internacional. Contudo, a ideia de que o Dream Team modificou o jogo é para mim apenas parcialmente verdadeira. Acredito que outros dois times anteriores a este foram os responsáveis iniciais pela grande mudança do esporte: Brasil (Jogos Panamericanos 1987) e URSS (Jogos Olímpicos 1988).

Os Jogos Panamericanos surgiram em 1951 e os EUA ganharam ouro nas primeiras cinco edições do torneio de basquetebol. A primeira vez que isso não aconteceu foi em 1971, em Cali, por conta de um desempenho abaixo do normal. Em sua campanha, os EUA venceram o Suriname por 80 pontos de diferença, e o Brasil na prorrogação (81 x 79), mas perderam para Cuba (69 x 73), sendo eliminados pelos critérios de desempate ainda na primeira fase da competição. O resultado foi tão fraco que apenas três jogadores foram mantidos na equipe que veio a perder a controversa final Olímpica em Munique no ano seguinte. Cabe destacar que apesar disso, 17 dos 21 atletas destas duas competições tornaram-se profissionais da NBA ou da ABA. O Brasil sagrou-se campeão naquele ano. As três edições seguintes dos Jogos foram voltaram a representar a hegemonia do basquetebol norte-americano, com mais três ouros conquistados. Até que chegamos em 1987, em Indianápolis, considerada na ocasião uma espécie de “Capital Mundial do Basquetebol”.

A final colocava frente a frente os donos da casa e a equipe brasileira, comandada pelo técnico Ary Vidal, um dos principais estrategistas do basquetebol brasileiro. Na volta do intervalo, o Brasil perdia por 15 pontos de diferença e dava clara impressão de que a situação já estava decidida. No segundo tempo, porém, os arremessos certeiros de Oscar Schmidt e Marcel de Souza reverteram o resultado e definiram o placar do jogo: EUA 115 x 120 Brasil. Essa foi a primeira vez que o basquetebol americano foi derrotado em seu próprio país.




Um ano depois, os Jogos Olímpicos de Seul (1988) marcaram o retorno das nações polarizadas pela guerra fria e parcialmente ausentes nos Jogos de Moscou (1980) e Los Angeles (1984). EUA e URSS se encontraram nas semifinais, e apesar de novamente contar com um elenco repleto de futuros astros da NBA, os EUA perderam a chance de brigar pelo ouro: URSS 82 x 76 EUA, e precisaram se contentar com o bronze. Este time soviético formou a base da equipe da Lituânia em 1992, e, por esta razão, foi a única equipe em Barcelona a ganhar pequenas doses de preocupação do técnico Chuck Daly e sua trupe dos sonhos.





Até então, a geração de David Robinson vinha sendo marcada pelo fracasso nas competições internacionais. Muito embora haja um desdém da crítica esportiva americana acerca da derrota de Indianápolis (isso é muito evidente no livro de McCallum), o fato é que esse foi o primeiro sinal de que mudanças eram necessárias. A derrota em Seul, por sua vez, deu tons claros aos criadores do basquetebol de que a modalidade já não estava mais sob seu domínio. Foram vencidos em 1987 por um time que jogou melhor, mas em 1988, foram vencidos por time efetivamente melhor! As reuniões entre Boris Stankovic (FIBA) e David Stern (NBA) não poderiam ocorrer em momento mais propício. Stankovic queria elevar o basquetebol internacional ao nível dos profissionais americanos; Stern queria aumentar a visibilidade (e garantir mais lucro) à NBA; e os EUA haviam perdido as duas últimas competições disputadas com seus atletas universitários.

Não vou me ater a falar aqui sobre o indiscutível impacto que o Dream Team causou no esporte como um todo (penso que não apenas no basquetebol), pois preferi dedicar este espaço para enaltecer outros responsáveis pelas mudanças ocorridas no basquetebol internacional e que não podem ser esquecidos pela história.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Como Utilizar as Estatísticas de Jogo


Nos dias de hoje, não se acompanha mais o esporte sem as estatísticas de desempenho de atletas e equipes. Contudo, quem começa a ler essas informações deve atentar para o contexto em que elas são apresentadas. Analisar simplesmente os números frios, pode ser uma forma inadequada de se avaliar a performance esportiva. Além disso, nenhum dos fundamentos deve ser analisado sem estar atrelado aos outros. Entenda que durante a partida um evento é influenciado pelo anterior, de modo que um rebote (ofensivo ou defensivo) depende da forma como o arremesso foi executado.  Assim, ao valorizar um bom número de rebotes ofensivos de sua equipe, lembre-se de que há proporcionalmente um relativo número de arremessos errados.

Nos EUA há muito tempo acredita-se no fenômeno da hot hand, que parte do princípio de que a chance de se acertar um lance livre após um acerto anterior é maior do que após um erro. Alguns estudos bastante interessantes foram realizados (1-3) e suas análises contestando ou ratificando esta teoria servem de bons exemplos para entendermos o quão complicado é acompanhar a performance esportiva com base nas estatísticas do jogo.

A maior lição que deve ser aprendida é o fato de que o scout de um jogo ou a performance recente de uma equipe não têm poder de prever o que pode vir a acontecer na partida seguinte. Em suma, a estatística explica o passado, mas não prevê o futuro. Se fosse assim, ao invés de entrar em quadra para disputar a bola, seria suficiente apresentar um card com as estatísticas da equipe na última temporada e comparar com os dados do adversário, como num jogo bem popular de minha infância, o Super Trunfo, que comparava carros de turismo, de fórmula 1, caminhões, motos, lanchas, aviões e até balões, pelas suas descrições técnicas (cilindradas, empuxo, velocidade máxima, etc). Vencia a disputa quem tivesse os valores mais altos do item escolhido.

O uso da estatística no esporte no Brasil ainda tem sido mal explorado e mal interpretado.  Há um pouco mais de 20 anos, surgiu uma proposta de representação gráfica do desenvolvimento do jogo  (4). No exemplo abaixo, as equipes do Los Angeles Lakers e Seattle Supersonics faziam em Seattle o jogo nº 6 dos play-offs da Conferência Oeste da NBA em 1989. Pelo gráfico, pode-se notar que o time da casa liderou o placar durante quase todo o tempo, perdendo a liderança apenas nos últimos 6 minutos de jogo. A diferença entre as equipes chegou a ser de confortáveis 28 pontos em favor do Sonics. Mas, se olhássemos as estatísticas isoladamente, não teríamos condições de observar adequadamente o desenrolar do jogo.  





Vamos a outro exemplo. Nos Jogos Olímpicos de Londres 2012, o encontro entre Espanha e Grã-Bretanha terminou com estas estatísticas abaixo.

Espanha
Fundamento
Grã-Bretanha
49%
2 pts
49%
24%
3 pts
38%
66%
Lances Livres
69%
22
Assistências
12
15
Rebotes Ofensivos
10
28
Rebotes Defensivos
26
3
Roubadas
4
6
Tocos
1
13
Erros
13
0,88
Eficiência Ofensiva*
0,93
                               *pontos por posse de bola

O placar do jogo não foi apresentado aqui propositalmente. Se olharmos alguns dos dados acima, poderemos concluir que a Grã-Bretanha saiu vencedora do confronto, ao considerar os percentuais de aproveitamento de arremessos de quadra e lances livres, o maior número de rebotes em disputa (indicativo de maior quantidade de arremessos errados pelo time visitante) no garrafão britânico (41 vs 38) e, por fim, a maior eficiência ofensiva dos anfitriões. No entanto, a Espanha teve 90 posses de bola (78 pontos) e a Grã-Bretanha teve apenas 84 (72 pontos), ou seja, o placar final do jogo difere do que estas estatísticas acima nos fazem acreditar.

Todo treinador precisa ter seus jogos filmados para poder analisá-los não apenas sob o manto descontextualizado das estatísticas, mas também sob uma ótica de análise de jogo de forma mais completa, associando o scout às variações da pontuação entre as equipes, ao ritmo de pontuação, assim como às tomadas de decisão de seus atletas. E mais, não confie na memória! Filme o jogo, assista-o fazendo anotações e depois acompanhe suas notas com os dados descritivos do estatístico. Quanto mais informações você tiver, mais feedback terá a dar a seus atletas e melhor será sua programação de treinos.


Referências

  1. Gilovich, T.; Vallone, R.;Tversky, A. The hot hand in basketball: on the misperception of random sequences. Cogn Psychol, v. 17, p.295-314, 1985.
  2. Wardrop, R.L. Simpson´s paradox and the hot hand in basketball. Amer Stat, v. 49, n.1, p. 24-8 , 1995.
  3. Yaari, G.; Eisenmann, S. The hot (invisible?) hand: can time sequence patterns of success/failure in sports be modeled as repeated random independent trials? PLoS One, v.6, n.10, p.1-10, 2011.
  4. Westfall, P.H. Graphical presentation of a basketball game. Amer Stat, v.44, n.4, p.305-7, 1990.


terça-feira, 14 de agosto de 2012

O Que Aprendemos Em Londres?


Passada a euforia das disputas nos Jogos, podemos agora fazer uma avaliação dos eventos ocorridos com a delegação brasileira em Londres, suas causas e consequências para 2016. Este ano tive a oportunidade de assistir os Jogos Olímpicos de uma forma diferente das outras vezes, consultando sistematicamente os comentários e opiniões postados no twitter, facebook e nos mais diversos blogs brasileiros. E pelo que li, permito-me ficar com a impressão de que ganhar uma medalha olímpica é fácil, muito fácil, tamanha foi a quantidade de críticas ao desempenho dos atletas brasileiros nas terras da rainha britânica. Terá sido essa nossa pior participação olímpica? Não, não foi. Tampouco mostramos evolução esportiva esperada em resposta ao investimento feito. Parece que daí é que surgem os grandes desdobramentos que vão alimentar os debates dos próximos quatro anos. Como devemos avaliar criticamente, sem ufanismos nem cornetagens, o desempenho do “Time Brasil” em Londres? Quais os caminhos para nos tornarmos uma potência olímpica? Quais são as barreiras ao desenvolvimento esportivo nacional? Nossos atletas amarelam? Estas perguntas serão debatidas ao longo deste e de outros textos que em breve estarão aqui no blog. Vamos começar...

O lendário lema dos Jogos Olímpicos “O importante não é vencer, mas competir!” parece ter sido interpretado de forma equivocada por tantos anos. O velho Barão de Coubertin certamente não ficaria satisfeito se seus esforços para reeditar o maior evento esportivo do planeta se resolvessem numa pura e simples participação nas provas. Duvido! Competir é disputar, é fazer o possível para conseguir o lugar mais alto do Olimpo. Ganhar ou perder são consequências de um aglomerado de circunstâncias que precisam atuar concomitantemente para que o sucesso seja possível. Por exemplo, o nadador Bruno Fratus saiu das piscinas sem medalha no peito, mas fez o melhor tempo de sua vida nos 50 m livre. No atletismo, a equipe de revezamento 4 x 100 m feminino bateu o recorde sulamericano da prova, mas não foi suficiente para a medalha olímpica. 
O handebol feminino também não passou das quartas de final, mas hoje, embora não esteja no mesmo nível, já pode ser vista com respeito pelas principais potências europeias da modalidade. Devemos considerar estes resultados como sucesso ou fracasso?

E estes outros: Maurren Maggi teve um ciclo olímpico irregular e intermediado por lesões repetidas e uma intervenção cirúrgica. Por essa razão, não se esperava medalha, mas nossa saltadora de ouro em Pequim fez falta na final do salto em distância, no mínimo para botar pressão nas adversárias. Fabiana Mürer era a mais forte candidata à medalha, visto seu retrospecto recente nos campeonatos mundiais do salto com vara. Não ganhou medalha. Não foi à final. Não tentou o último salto. Depois, saiu de lá como se tudo fosse absolutamente normal, como se tivesse desistido de tomar um cafezinho por não ter sua marca de adoçante preferida. E o glorioso futebol, esporte que se identifica com todas as camadas da população? 


O futebol, é bem verdade, merecia um capítulo à parte. Exagera quem diz que o Brasil tinha o seu principal time e os adversários não. Nosso time para 2014 não será aquele de Londres. Vai mudar goleiro, lateral direito, zaga, volantes, meias, e talvez até os atacantes. Ou seja, muita água vai rolar até a Copa. Este time nunca inspirou a plena confiança nem mesmo antes de aportar na Grã-Bretanha. Ainda assim, jogou contra adversários mais fracos e passou por dificuldades várias vezes. E aos olhos do mundo, não ganhou a prata, mas perdeu o ouro. É bem verdade que ninguém imagina que vai começar o jogo com 1 x 0 para o adversário (gol aos 29 segundos de jogo!). 
Mas para um esporte que tem um milionário orçamento anual (o mais alto entre todas as modalidades) e que está para o Brasil assim como o basquetebol está para os EUA, este interminável jejum de ouro olímpico envergonha até o torcedor mais ufanista do país! Só pra se ter uma noção, o basquete norte-americano tem 21 ouros (14 masculinos e 7 femininos), enquanto nosso futebol tem zero! Pra onde vai o planejamento e o investimento de tantos anos?


Em minha opinião, atleta olímpico não tem obrigação de ganhar medalhas, mas deve ter o mais intenso desejo de conquistá-la! E quando você deseja algo de verdade, faz o possível para conquistá-lo. E numa hora como essa me lembro do ensinamento do maior de todos os treinadores de basquetebol da história, John Wooden: “Sucesso é a paz de espírito proveniente da consciência de que você fez todo o esforço possível para se tornar o melhor dentro do seu potencial”.

Por falar nisso, e o basquete? Bom, o masculino disse a que veio. Penso que muitos ainda não dimensionaram o que representou a simples classificação para Londres. Vejam, se a classificação não fosse efetivada, o basquete brasileiro perderia não apenas mais 4 anos, mas sim 8 anos para se reerguer, pois a vaga para Rio 2016 é automática e entraríamos desacreditados, como se tivéssemos penetrado na festa pela entrada dos garçons. Precisávamos ganhar a vaga na quadra, jogando, e não burocraticamente por ser o país sede. Precisávamos merecer nosso lugar no torneio olímpico. E depois de três ciclos olímpicos de fora (não gosto da conta de “16 anos fora” para um evento que só ocorre de 4 em 4 anos!), voltamos.
O grande mestre Prof. Wlamir Marques fez (em minha opinião) o mais lúcido e atento comentário sobre a equipe brasileira nos Jogos ao ressaltar que não fomos a Londres para ganhar medalha, e sim para resgatar a imagem do basquetebol brasileiro no cenário internacional. Visão de quem já ostentou no pescoço duas medalhas olímpicas e dois títulos mundiais! Então, professor, missão cumprida! Poderia ter sido melhor? Claro, sempre pode ser melhor. Entretanto, a base do trabalho para a próxima vez está consolidada e creio que os frutos devem ser colhidos ao longo dos próximos dois ciclos olímpicos. Por outro lado, o feminino saiu daqui desacreditado, chegou lá desmembrado, e voltou pra casa derrotado. Temos um problema que parece de difícil solução em curto prazo: não temos adversários na América do Sul! Isso mascara sobremaneira as limitações de nossos times. Precisamos de uma Liga Sulamericana de clubes forte, precisamos de intercâmbio com países europeus. E precisamos que a Liga de Basquete Feminino decole! E isso é só ponta do iceberg.

O que está abaixo da linha d’água, a parte submersa do iceberg, é o maior de todos os problemas. Mas ao mesmo tempo, penso que não seja. Vou dar o exemplo de duas modalidades cujas Confederações parecem ter encontrado soluções para enfrentar os desafios do desenvolvimento esportivo. O judô levou 14 atletas a Londres, colocou 11 deles entre os oito melhores do mundo e ainda se fez presente em quatro pódios. O vôlei (quadra + praia) disputava seis medalhas, ganhou quatro, e mais, continua a manter-se entre os seis primeiros do mundo desde de 1980 no masculino e de 1988 no feminino. Foram 11 medalhas somente nas últimas três edições de Jogos Olímpicos, sendo quatro ouros. Para agravar a situação, o vôlei de quadra é a única modalidade coletiva brasileira a ouvir o hino nacional nos Jogos Olímpicos! Foram quatro títulos de campeão olímpico desde 1992 em Barcelona. E até agora, ninguém mais repetiu o feito. Na praia, que é olímpica desde 1996, o Brasil nunca deixou de marcar presença nas cerimônias de premiação. O que me deixa incomodado é que o vôlei em tese tem as mesmas dificuldades e limitações operacionais que o basquete (inclusive a disputa de público com o futebol). Mas como o vôlei conseguiu atingir e permanecer na elite mundial do esporte e o basquete não?

Já comentei outras vezes aqui no É Cesta! que a formação dos dirigentes esportivos é um fator fundamental para o crescimento esportivo do país no longo prazo. O vôlei e o judô entenderam isso faz muito tempo, mas parece que as demais modalidades ficaram vendo o bonde passar e não aproveitaram as mesmas oportunidades. A Confederação Brasileira de Voleibol tem um centro de treinamento especializado e bem estruturado, cursos de capacitação de professores e treinadores em todo o país, planejamento comercial (marketing) eficiente, e de forma mais ousada, a recém-criada Universidade Corporativa do Voleibol, que pretende formar profissionais para as mais variadas funções associadas à excelência da performance da modalidade no país.

O que aprendemos em Londres é que o caminho para o desenvolvimento do basquetebol e do esporte brasileiro em geral estava logo aqui ao lado e o tempo todo, mas ninguém se tocou! 

O pior cego é aquele que não quer ver...

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Muito Longe de Londres ou Rio de Janeiro


O esporte brasileiro está prestes a mostrar ao mundo seu valor. Logo após o fim da epopeia londrina, precisamos focar em definitivo nos megaeventos esportivos que vamos organizar ao longo do próximo ciclo olímpico. Enquanto esperamos a conquista de medalhas e performances expressivas em Londres (2012) e no Rio de Janeiro (2016), existe um outro lado do esporte brasileiro que não aparece na mídia esportiva nacional. Uma realidade bem diferente e incoerente com as intenções de trazer os Jogos Olímpicos e Paralímpicos para nossas terras a fim de, entre outras coisas, fomentar a prática do esporte em todas as suas dimensões (sócio-educativa, lazer ativo, promoção de saúde e qualidade de vida, alto rendimento e entretenimento popular). Quando nos afastamos dos grandes centros do país, o que observamos é a total disparidade entre as honrosas conquistas e demonstrações de superação de nossos atletas olímpicos e paralímpicos e aquilo que se propõe e que se pratica nas demais regiões.

Vou dar o exemplo do basquetebol sergipano. Quando cheguei aqui em Aracaju, em 2006, para ser professor da Universidade Federal de Sergipe, não tinha planos de voltar a trabalhar com esporte. Mas, no ano de 2008, exatamente uma década afastado da modalidade, me deparei com a inevitável situação de assumir a disciplina Metodologia do Basquetebol na UFS. Paralelamente, resolvi aceitar o convite de alguns alunos e assumi a direção da equipe universitária de basquetebol. De início, a ideia era apenas a participação nos Jogos Universitários Brasileiros, mas logo veio o interesse de participar de outras competições, como o Campeonato Estadual Adulto.

No dia da estreia no Estadual, me senti constrangido quando o árbitro principal da partida veio a mim e solicitou o pagamento da taxa de arbitragem antes que a partida se iniciasse. O pagamento era feito ali na quadra, na frente de todo mundo. Parecia que estávamos pagando propina aos árbitros! Durante os anos em que fui atleta e técnico no Rio de Janeiro, nunca passei por situação similar. As taxas de arbitragem eram pagas ao final do mês pelo clube, contabilizando o número de partidas disputadas em cada faixa etária e em função das categorias dos árbitros.

Mas aqui em Sergipe não existem clubes participando dos campeonatos, e quem faz o esporte de base são as escolas. Algumas delas...aliás, somente quatro escolas participaram dos campeonatos estaduais de base este ano. A Federação Sergipana de Basketball (FSB) tem apenas três filiados, sendo uma escola e dois clubes, mas estes clubes não oferecem o basquetebol em sua grade de atividades aos sócios. Em um deles inclusive, o teto do ginásio desabou em 2006 e nunca mais foi restaurado. É difícil administrar o esporte se a Federação não tem arrecadação. E em função da ausência dos clubes, para organizar a tabela do campeonato, a FSB precisa contar com a nem sempre possível disponibilidade de quadras em escolas, no Sesc/Sesi ou no Ginásio Estadual (enorme e sempre vazio para nosso público). Os jogos acontecem em rodada única, todos na mesma quadra. Não temos jogos ocorrendo concomitantemente em vários ginásios. Isso afeta até o número de árbitros no quadro da Federação. Não adianta ter árbitros demais se os jogos são raros.

Apesar da FSB ser a única federação esportiva aqui no Estado com toda sua documentação em dia (mérito do atual presidente, um especialista em contabilidade), a captação de recursos via patrocinadores tem se tornado escassa. Assim, se não há recursos, não há como haver muitos jogos. Vejam só a situação:

Campeonato Estadual Sergipano 2012
Categoria
Equipes Participantes
Total de Jogos Previstos
Partidas Disputadas pelo Campeão
Sub-15 Feminina
2
Melhor de 5 partidas
3
Sub-17 Feminina
3
3
2
Sub-15 Masculina
6
10*
4
Sub-17 Masculina
5
10**
4
          *Um dos jogos foi WO;
**Houve um WO e por isso outras duas partidas não foram realizadas.

Pois é. Além de não termos campeonatos sub-13 e sub-19, a quantidade de jogos disputados pelos nossos times é absurdamente baixo. Claro que não é só isso. As equipes também disputam jogos escolares (pelo menos três outras competições no ano), mas em geral com adversários muito inferiores e com regulamento adaptado por razões financeiras (tempo de jogo de quatro períodos de 8 minutos corridos, por exemplo). Fica complicado fazer com que nossos técnicos, atletas e árbitros se desenvolvam adequadamente com esta situação.

Em relação à categoria sub-19, as escolas só jogam até a sub-17, e como não temos clubes, quando o atleta chega aos 18 anos, não tem mais onde jogar. No campeonato adulto, nenhum clube oficial participa. Eventualmente alguma escola resolve participar, às vezes com atletas demasiadamente jovens para este tipo de torneio. Os times são criados entre amigos que pagam do próprio bolso a confecção dos uniformes e a taxa de inscrição no campeonato, e ainda por cima, a FSB condiciona a participação da equipe à presença de um técnico. Ou seja, os raros que se habilitam à função, têm que trabalhar de graça, pois não há perspectiva de receber salário.

Há pouco tempo atrás, pensei em criar um projeto de extensão na UFS para viabilizar a detecção de talentos esportivos. Mas, se encontrar um jovem com potencial esportivo interessante, vou encaminhá-lo para onde se não temos clubes? Acho que o papel do esporte escolar é meramente a detecção de talentos, não sua promoção ou desenvolvimento. E não creio que possamos desenvolver talentos fazendo uma meia dúzia de jogos ao ano.

O pior de tudo é saber que esta realidade não é exclusividade nem do basquetebol e nem mesmo do Estado de Sergipe. Esse foi só um exemplo para mostrar a cruel realidade que o país dos próximos Jogos Olímpicos terá que enfrentar.

Se você passa por situação semelhante, comente aí embaixo!